#TSENTREVISTA: Costa Verde na mídia: tecnologia social Bacia Escola e os seus desdobramentos

Postado por IEAR em 10/abr/2023 - Sem Comentários


Retirado de Tecnologia Social UFF


Conheça o trabalho desenvolvido pelo professor Anderson Mululo Sato, da UFF



Infelizmente, desastres nacionais relacionados às grandes chuvas não são uma novidade, porém, estatisticamente, observamos a existência de lugares que acabam sofrendo repetidamente com essas tragédias, sendo o município de Angra dos Reis, localizado na região conhecida como Costa Verde, no Rio de Janeiro, um desses lugares. Junto com os problemas advindos dessas grandes chuvas, outros problemas emergem, levantando um sinal de alerta para a qualidade de vida da população local.

Com essa preocupação, nasce a experiência de tecnologia social Bacia Escola – Núcleo Comunitário de Sustentabilidade, coordenada pelo Prof. Dr. Anderson Mululo Sato, professor do Departamento de Geografia e Políticas Públicas, no Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR) da UFF.

Convidamos o professor Sato para uma entrevista exclusiva, na qual abordaremos os desdobramentos dessa experiência, presente no Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF, e descobriremos novas atividades que vêm sendo realizadas.

Falando um pouco sobre as motivações para o desenvolvimento da experiência, o professor Sato destaca que o surgimento da tecnologia social Bacia Escola acontece a partir da necessidade do Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR) em se integrar com a comunidade do bairro do Retiro, local que, em 2017, a UFF conquistou para a expansão das atividades realizadas no município de Angra dos Reis.

As atividades da experiência possibilitaram uma ação em conjunto, entre a população local, a Associação de Moradores da Praia do Retiro (AMPR), com a universidade e o poder público, na figura do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), serviço local que promove o saneamento básico da comunidade do Retiro. Desde então, a parceria estabelecida “(…) visa promover, através das águas, a sustentabilidade do sistema hidrográfico onde a comunidade se insere”, destaca o professor Anderson Sato.

Em 2017, para a sua implementação, o desafio foi chegar ao bairro do Retiro e conscientizar a população sobre a proposta e a importância para a preservação do meio ambiente, sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida. Este sucesso só pôde ser obtido através do trabalho da AMPR, engajando primeiro os seus gestores, até que se chegasse à comunidade local:

“ (…) A atuação das lideranças da AMPR junto aos moradores articulando a atuação de proximidade (corpo-a-corpo) com outros instrumentos de comunicação local (aplicativos de mensagens, carro de som, folhetos e panfletos) foi fundamental para permitir uma primeira aproximação com a comunidade (…)”, pontua o professor Sato.

Com essa tecnologia social, a universidade consegue solidificar a sua importância nos pilares do ensino, pesquisa e extensão, promovendo uma sala de aula a céu aberto, com trocas de saberes entre estudantes, professores e população e a valorização do saber local. Além disso, as melhorias locais tornaram-se perceptíveis, por meio de reformas nas redes de água e esgoto, promovendo melhores condições de vida à comunidade do bairro do Retiro.

“(…) Como as águas são o elo de integração dos próprios comunitários e destes com a natureza, vem sendo aperfeiçoado o conceito-valor de hidro-solidariedade, que pode ser definido como o compromisso ético pelo qual as pessoas cuidam e integram a sociedade-natureza através das águas. Através da educação ambiental trabalha-se este valor da hidro-solidariedade, alcançando tanto os comunitários locais como a sociedade em geral, através de assembleias comunitárias, eventos de conscientização socioambiental e recuperação do histórico da comunidade, aulas-passeio e através das mídias de comunicação, como rádio, TV, portais de notícias, mídias sociais, entre outros.” – evidencia o professor Sato.

Sendo um projeto já consolidado no bairro do Retiro, a tecnologia social Bacia Escola auxiliará na formação de novos educadores ambientais no município de Bom Jardim, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, por meio de parceria com a UFF, alcançando um dos quesitos importantes para o funcionamento de uma tecnologia social, que é a replicabilidade em diferentes contextos.

Conforme destaca o professor Sato:
“Após diálogos iniciais envolvendo gestores municipais e lideranças comunitárias em Bom Jardim, optou-se por iniciar o processo por meio de uma formação em sustentabilidade e Bacia Escola voltada para educadores ambientais locais, a fim de implantá-la na bacia hidrográfica que abrange a comunidade da Barra de Santa Tereza. A julgar pelas primeiras interações com os educadores, gestores e lideranças  do município, também haverá sucesso na exportação e adaptação da tecnologia social Bacia Escola neste novo espaço.”

Porém, vale ressaltar que para que a Bacia Escola do Retiro virasse realidade, os desafios não foram poucos. Segundo o professor Anderson Sato, em 2018, a organização da AMPR como estrutura informal foi um quesito de dificuldade para o alcance a recursos públicos de promoção ao saneamento básico da comunidade, o que só foi possível de se contornar por meio da articulação e parcerias com o SAAE e com o Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía da Ilha Grande, o que possibilitou a efetivação do projeto de tratamento de esgotos na comunidade do Retiro e a expansão para outras comunidades no município de Angra dos Reis e no município de Paraty, também no estado do Rio de Janeiro.

Além disso, há de se destacar a pandemia de COVID-19, que acaba interrompendo os encontros presenciais do núcleo, tendo em vista a necessidade do isolamento social advindo da crise sanitária. Mas, aos poucos, a interrupção foi sendo transformada em uma agenda de atenção à emergência de saúde, conforme destaca o professor Sato, com realização de ações educacionais de forma remota, voltadas para a preservação da saúde da comunidade, incentivo à vacinação e mitigação dos impactos econômicos. Com essas ações sendo realizadas e a conscientização local, o bairro do Retiro não registrou óbitos por COVID-19, o que já se mostra como um resultado extremamente positivo.

Para encerrar a nossa conversa, perguntamos ao professor Anderson Sato quais dicas ele daria para alguém que tenha interesse em produzir e/ou desenvolver uma tecnologia social, que listamos abaixo:

1- Comece pelo básico, dialogue com lideranças comunitárias sobre problemas socioambientais que afetam a comunidade;
2- Transforme problemas de difícil solução em desafios de superação conjunta, que formem e mobilizem os cidadãos através do envolvimento dos saberes populares e acadêmicos;
3- Construa uma estrutura de governança da tecnologia social que seja democrática e participativa. Registre, monitore e avalie o processo e os impactos na jornada de transformação dos territórios de intervenção, pois para ser uma tecnologia social é necessário demonstrar os efeitos positivos advindos dela;
4- Avalie a possibilidade de tornar esta tecnologia social escalável, isto é, avalie o potencial e as formas de replicá-la para além do local onde foi concebida inicialmente.

Por fim, para acompanhar o trabalho desenvolvido pelo Prof. Dr. Anderson Mululo Sato e a experiência de tecnologia social Bacia Escola, acesse: http://www.baciaescola.eco.br/

É importante que os projetos desenvolvidos pela universidade sejam destacados e divulgados na comunidade interna e mundo afora, para que possam servir ao seu propósito de desenvolvimento da sociedade. Se você é estudante, professor ou servidor da UFF, coordena ou faz parte de um projeto de tecnologia social, fique atento às nossas redes. Anualmente é aberta chamada pública para chamamento e registro de tecnologias sociais. Em breve traremos novidades!

Enquanto isso, conheça a última edição do Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF, clicando aqui.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Notícias

 

Para acessar todas as notícias, clique aqui.

Copyright 2024 - STI - Todos os direitos reservados

Skip to content